domingo, 29 de março de 2020

Conto para crianças sobre o Coronavírus

Damos a conhecer um conto escrito pelo Professor Bibliotecário, Carlos Alberto Silva, do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós!


"O monstro minúsculo que queria ser rei"



Num lugar muito longe daqui, havia um monstro minúsculo, tão pequeno, tão pequeno que ninguém conseguia vê-lo à vista desarmada. No entanto, tinha muito mau feitio e uma enorme ambição: tornar-se num gigante e ser rei absoluto. Como tinha nascido com uma coroa na cabeça, achava que tinha direito a dominar todo o planeta.
Um dia, foi consultar uma bruxa malvada muito poderosa e disse-lhe:
- Ouve lá, ó bruxa maléfica, estou decidido a tornar-me num gigante e a ser o rei absoluto deste planeta. Se me ajudares a consegui-lo, recompensar-te-ei e nomear-te-ei minha Primeira Conselheira.
A princípio, a bruxa achou que aquele monstro minúsculo não devia estar bom da cabeça. Ainda por cima, manifestava uma irritante falta de respeito. Chegou mesmo a pensar lançar-lhe um feitiço que o transformaria num sapo ou, como era tão pequeno, num grão de pó. Mas depois reconsiderou, pensando que aquilo até podia ser divertido e respondeu:
- Combinado! Se fizeres tudo o que eu disser, ajudo-te a conseguir o que pretendes.
Virou costas e foi para junto do seu caldeirão, criar um feitiço especial.
Passado algum tempo, a bruxa chamou o monstro minúsculo e disse-lhe:
- Já preparei um feitiço que te permitirá realizar o teu desejo. Mas, para isso, há algumas condições.
- Ai sim? - disse o monstro minúsculo - Que condições são essas?
- Primeiro, tens de prometer que farás tudo o que eu disser, como eu disser e quando eu disser.
- Está bem, prometo! - resmungou o monstro minúsculo, com maus modos.
A bruxa explicou então:
- Para poderes ser o rei do mundo, tens de subjugar os humanos, que são quem, neste momento, domina o planeta. Vais entrar dentro deles e submetê-los à tua vontade. No entanto, tens um tempo limitado para habitar o corpo de cada um, antes que te consigam expulsar.
- De acordo - disse o monstro minúsculo. - E que mais?
- Só podes ir de humano em humano quando eles estiverem em contacto entre si. Aproveita bem cada aperto de mão, cada abraço e cada beijo para passar para o próximo ou então acaba-se o tempo e não poderás realizar o teu desejo.
- Certo. E que mais?
- Quando estiveres dentro de cada um, faz o que puderes para dominar o corpo que invadiste. Obriga-os a tossir para tornar mais fácil e rápida a tua acção. E olha que não vai ser fácil, sobretudo com os mais jovens. Por isso, aproveita especialmente os mais velhos, em particular os que já estiverem doentes.
- Percebi. Não me parece nada difícil. Vai ser canja, hehehehe! Já me estou a ver: enorme, do tamanho do mundo, com o planeta todo às minhas ordens.
- Não te entusiasmes demasiado - disse a bruxa. - Ainda temos muito que fazer. Agora, salta para dentro do meu nariz e vamos ao trabalho!
O monstro minúsculo saltou para dentro do nariz da bruxa e começou a multiplicar-se. Esta disfarçou-se de velhinha simpática e foi até ao mercado, que àquela hora estava a abarrotar de gente. Na mão, levava uma cesta cheia de maçãs, vermelhinhas e sumarentas, para cima das quais havia tossido.
- Olh'ás maçãs vermelhinhas e sumarentas!!! - apregoava ela. - Quem quer comprar as minhas maçãs maduras e deliciosas?
Ao mesmo tempo, ia cirandando entre as bancas do mercado e tossindo para cima das pessoas e das mercadorias e tocando em tudo com as mãos sujas.
Constatando que poucos queriam comprar as maçãs, começou a oferecê-las:
- Olh'ás maçãs vermelhinhas e sumarentas!!! Ó freguês, pague uma e leve três!
A pouco e pouco, o monstro minúsculo começou a entrar pelos narizes e bocas das pessoas que por ali andavam, sem que estas dessem por isso. Quando encontravam algum amigo ou conhecido, as pessoas cumprimentavam-se efusivamente, ajudando assim a passar o monstro minúsculo que as contaminava.
Dias depois, começaram a surgir os primeiros sintomas da invasão: algumas pessoas sentiram-se muito cansadas, com febre e com tosse. As mais vulneráveis tiveram que ser hospitalizadas e, a cada dia que passava, apareciam mais casos. Algumas pessoas não resistiam...
Na sua cabana, a bruxa malvada gargalhava, a cada má notícia que ouvia sobre o assunto. Por seu lado, o monstro minúsculo andava nas suas sete quintas e crescia de dia para dia. Começou por ter sob o seu domínio uma cidade e depois outra e outra.
Quando já controlava o país inteiro, espalhou-se pelos restantes países. Os estrangeiros que estavam de visita levavam-no na bagagem para as suas terras e ajudavam, sem saber, à sua propagação.
O monstro minúsculo começou então a lançar na cabeça das pessoas a semente do medo. Não tardou que o pânico alastrasse e estas começaram a acumular comida e outros bens essenciais. Alguns até compraram armas. Mas esta era uma guerra invisível, porque ninguém sabia como combater o monstro minúsculo.
Os governantes dos países atingidos chamaram os feiticeiros oficiais, mas estes não sabiam como resolver o assunto. Chamaram então os cientistas e pediram-lhes ajuda. Os cientistas estudaram o problema e procuraram uma cura para a doença provocada pelo monstro minúsculo.
Descobriram que este só podia crescer quando as pessoas estavam em contacto entre si. Que se aproveitava de cada aperto de mão, cada abraço e cada beijo para passar de uma para outra. Aconselharam então as pessoas a mudarem os seus hábitos e a ter muito cuidado com a higiene. Aconselharam também que, os que pudessem, ficassem em casa. Só saíam os que tinham mesmo de trabalhar para dar resposta às necessidades do dia a dia.
Muitas pessoas assim o fizeram. Custava muito ficar em casa em vez de ir trabalhar, passear ou tratar dos assuntos habituais. Mas arranjaram maneiras de comunicar e de se apoiarem umas às outras. Vinham para as janelas e para as varandas cantar em conjunto, liam em voz alta, contavam histórias... E diziam umas às outras:
- Vamos ficar bem! Vamos ficar bem!
Assim, o tempo de que o monstro minúsculo dispunha para concretizar o seu plano maléfico ia-se esgotando. A pouco e pouco, voltava a ficar cada vez mais pequeno, o que o deixava tremendamente furioso.
A bruxa malvada acabou também por ser vítima do monstro minúsculo. Ele achava que a culpa do seu falhanço era dela, zangou -se e, como acontece neste tipo de histórias, empurrou-a para dentro do forno e a bruxa rebentou!
O monstro minúsculo ainda anda por aí, mas acredito que as pessoas, que somos todos nós, o iremos vencer. E, no final, vamos ficar bem!

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